A Estrada Dourada de Oz: A jornada musical de Michael Jackson, Diana Ross e o Poder Negro

Em 1974, enquanto os palcos ainda resistiam à diversidade, um musical nascia para redesenhar a estrada de tijolos amarelos com tons de alma, identidade e orgulho negro. The Wiz: The Super Soul Musical — Wonderful Wizard of Oz estreava em Baltimore com um elenco inteiramente afro-americano. Um feito inédito, ousado e revolucionário. A trilha sonora, composta por Charlie Smalls, trouxe mais do que ritmos envolventes — trouxe vozes de resistência. Em cada nota, uma ruptura com o padrão branco imposto por décadas ao entretenimento americano.

No ano seguinte, o espetáculo invadiu a Broadway com brilho próprio e com uma missão clara: mostrar que a cultura afro-americana não era um detalhe — era o espetáculo. Mas transformar essa energia dos palcos em um longa-metragem seria um desafio. Era preciso competir com a imortal versão de 1939, onde Judy Garland encantou gerações como Dorothy. Entrava em cena Sidney Lumet, e com ele, duas joias raras da cultura negra: Diana Ross e Michael Jackson. O palco seria agora o cinema — e a mensagem, mais universal do que nunca.

Ease on Down the Road” foi a primeira estrada pavimentada por essa nova versão de Oz. Escrita com alma e esperança, tornou-se o hino dos excluídos que agora tinham voz, espaço e protagonismo. A canção reaparece em momentos-chave da jornada: quando Dorothy encontra o Espantalho, depois o Homem de Lata e o Leão Covarde. Cada repetição não era apenas musical; era uma afirmação: você pode seguir em frente, mesmo quando o mundo disser não.

E então veio o momento icônico. Diana Ross como Dorothy — mais madura, mais forte, mais simbólica — estendia a mão para um Michael Jackson em ascensão, no papel do Espantalho mais sensível e carismático que Hollywood já viu. Era mais que atuação: era entrega. Era como se, pela primeira vez, o Mágico de Oz revelasse ao mundo o que há de mágico na identidade negra. O sonho não era mais um balão no céu. Era um grito de liberdade.

Barry Gordy, o visionário da Motown, sabia o poder que carregava em mãos. Mesmo rompido com Michael Jackson e processando os Jacksons na justiça, ele não deixaria esse projeto escorregar. Juntar Michael e Diana — seus maiores astros — em um filme e em uma música era sua carta de ouro. Um golpe de mestre. O que poucos sabiam é que, por trás dessa união, havia também a improvável colaboração entre duas gravadoras rivais: Motown e Epic.

Apesar do filme não ter o desempenho esperado nas bilheterias — um golpe duro para a Universal — a música “Ease on Down the Road” trilhou seu próprio caminho. Chegou ao 17º lugar nas paradas disco e garantiu a Michael Jackson sua primeira indicação solo ao Grammy fora do Jackson Five. Um marco silencioso, mas poderoso. Michael e Diana foram reconhecidos na categoria de melhor performance vocal de R&B em dupla em 1979. O cinema pode ter resistido, mas a música venceu.

Hoje, mais de quatro décadas depois, The Wiz ainda ressoa como um símbolo de representatividade, arte e resistência. Muito mais do que uma adaptação de Oz, ele foi um manifesto em forma de musical. “Ease on Down the Road” não era só uma canção — era um convite. Um chamado para que todos que, por muito tempo, foram deixados à margem, finalmente seguissem em frente. E com estilo, alma e orgulho.

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